Émil August Goeldi, o Emílio Goeldi (1859-1917) |
Texto interessante sobre a experiência de um naturalista suíço com uma nuvem de carapanãs. O autor é nada mais nada menos que Emílio Goeldi. Isso mesmo, o cientista suíço que emprestou o nome à mais antiga instituição de pesquisa da Amazônia, o Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém. Vale a pena ler.
Uma infernal música de inúmeros carapanãs fere o nosso ouvido, ao mesmo tempo que um ou outro a todo momento vem esbarrar contra o nosso rosto, com revoltante cinismo e palpável provocação. Fazendo luz percebemos ao redor de um foco luminoso, dançar e fazer frenéticas cabriolas a ímpia multidão: são duas nuvens, cada qual composta de indivíduos de um sexo somente, que esvoaçando e descrevendo caprichosas evoluções, executam, mediante o som produzido pelas vibrações das asas e halteras, uma orquestra ou choro recitativo, regida pela batuta de Eros.
(...) Cantam porque assim se fazem sentir e reconhecer a alguma distância os dois sexos. Nada mais destituído de cerimonias do que a reunião sexual: uma fêmea qualquer desliga-se subitamente das suas companheiras e aproxima-se da nuvem de machos em dança. Imediatamente é segurada por um macho e, ligados, o par afasta-se da indiscreta multidão para um canto. Não é raro esquecer-se este da mais elementar prudência: tontos esbarram contra tudo e são capazes de rolar pelo chão.
Também observei casos, onde uma fêmear caia segurada por dois machos ao mesmo tempo, dando-se o espetáculo de um formidável rolo, - indício do frenesi sexual que reina em tais bacanais. (...) Parece que a cópula sexual tem o efeito de acordar e estimular o instinto sanguinário das fêmeas.
Emilio Augusto Goeldi. Memórias do Museu Goeldi IV: Os Mosquitos do Pará. Belém , Estabelecimento Gráfico Wiegandt - Pará, 1900.
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