Aquela figura rústica, do índio que Cabral encontrou no Brasil, lá pelos idos de 1500, é uma realidade bem distante na aldeia Mãe Maria, dos índios gavião kyikatêjê e parkatêjê. Quem vai ao lugar pensando encontrar casas de sapé e nativos em vestimenta de pena, com arco, flecha e aljava a tiracolo, volta decepcionado. Surpreendentemente, os índios se rederam aos apelos da modernidade.
As ocas deram lugar a casas de alvenaria, com piso em lajota, cobertas com telha de barro, rebocadas e pintadas. O luar perdeu significado na vida dos mais velhos, já que à noite as conversas são jogadas fora na porta de casa sob o clarão de lâmpadas elétricas. A pescaria da boca da noite foi substituída por outro programa, de branco – ver novela na televisão.
Invariavelmente, cada residência encontra-se munida de uma antena parabólica, além de outras invenções destes tempos modernos: fogão a gás, geladeira, aparelho de DVD e celular.
Os rapazes usam tênis, jeans e cortes modernos no cabelo. Também trocaram os adornos feitos de sementes e pedaços de osso por jóias em ouro 18 quilates.
Na entrada da aldeia, um parquinho daqueles que se vê nas praças das cidades grandes, com escorregador, balanço e gangorra, denuncia o peso da cultura dos brancos na vida dos kyikatêjê.
Mais adiante, tratores estacionados em uma paragem asseguram ao visitante que agora a lavoura também segue novos padrões entre os índios.
Até nos nomes os Gavião estão sofrendo a influência dos brancos. O atleta mais famoso da comunidade parkatêjê tem nome de cientista. Chama-se Einstein Sompré Sena, um jovem maratonista que adquiriu musculatura para o atletismo participando de corrida com toras, um esporte genuinamente indígena. Einstein prepara-se para ser um representante dos parkatêjê nas Olimpíadas de Londres, em 2012.Comentando esse fenômeno de aculturação, Gersem Baniwa, coordenador geral do programa de educação indígena do MEC, presente na I Conferência Regional de Educação Escolar Indígena, realizada na aldeia Mãe Maria, considera que o envolvimento do índio com os meios tecnológicos é algo positivo. Baniwa, que é de uma tribo do Amazonas, refuta a ideia de aculturação. Para ele, o índio não perde suas raízes culturais ao se render aos apelos da modernidade. “Os povos indígenas têm o direito de aprender e adquirir tudo aquilo que de bom os brancos têm – tecnologia, ciência, conhecimento, tudo isso que facilita melhor a vida – sem necessidade de eles abdicarem de suas culturas, suas tradições”, pondera. “E esse povo aqui [os índios kyikatêjê] é um modelo disso. Eles usam tudo de mais moderno, mas ao mesmo tempo mantêm forte a cultura deles. Ou seja, com todo esse avanço tecnológico, estando inseridos no mundo moderno, eles continuam falando a língua, praticando a cultura, as tradições, demonstrando que é possível, sim, essa convivência multicultural, intercultural, de povos diferentes, com cultura e tradições diferentes, numa mesma sociedade”, concluiu.
As ocas deram lugar a casas de alvenaria, com piso em lajota, cobertas com telha de barro, rebocadas e pintadas. O luar perdeu significado na vida dos mais velhos, já que à noite as conversas são jogadas fora na porta de casa sob o clarão de lâmpadas elétricas. A pescaria da boca da noite foi substituída por outro programa, de branco – ver novela na televisão.
Invariavelmente, cada residência encontra-se munida de uma antena parabólica, além de outras invenções destes tempos modernos: fogão a gás, geladeira, aparelho de DVD e celular.
Os rapazes usam tênis, jeans e cortes modernos no cabelo. Também trocaram os adornos feitos de sementes e pedaços de osso por jóias em ouro 18 quilates.
Na entrada da aldeia, um parquinho daqueles que se vê nas praças das cidades grandes, com escorregador, balanço e gangorra, denuncia o peso da cultura dos brancos na vida dos kyikatêjê.
Mais adiante, tratores estacionados em uma paragem asseguram ao visitante que agora a lavoura também segue novos padrões entre os índios.
Até nos nomes os Gavião estão sofrendo a influência dos brancos. O atleta mais famoso da comunidade parkatêjê tem nome de cientista. Chama-se Einstein Sompré Sena, um jovem maratonista que adquiriu musculatura para o atletismo participando de corrida com toras, um esporte genuinamente indígena. Einstein prepara-se para ser um representante dos parkatêjê nas Olimpíadas de Londres, em 2012.Comentando esse fenômeno de aculturação, Gersem Baniwa, coordenador geral do programa de educação indígena do MEC, presente na I Conferência Regional de Educação Escolar Indígena, realizada na aldeia Mãe Maria, considera que o envolvimento do índio com os meios tecnológicos é algo positivo. Baniwa, que é de uma tribo do Amazonas, refuta a ideia de aculturação. Para ele, o índio não perde suas raízes culturais ao se render aos apelos da modernidade. “Os povos indígenas têm o direito de aprender e adquirir tudo aquilo que de bom os brancos têm – tecnologia, ciência, conhecimento, tudo isso que facilita melhor a vida – sem necessidade de eles abdicarem de suas culturas, suas tradições”, pondera. “E esse povo aqui [os índios kyikatêjê] é um modelo disso. Eles usam tudo de mais moderno, mas ao mesmo tempo mantêm forte a cultura deles. Ou seja, com todo esse avanço tecnológico, estando inseridos no mundo moderno, eles continuam falando a língua, praticando a cultura, as tradições, demonstrando que é possível, sim, essa convivência multicultural, intercultural, de povos diferentes, com cultura e tradições diferentes, numa mesma sociedade”, concluiu.