Foto: Tuerê



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"A maior necessidade do mundo é a de homens; homens que não se comprem nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao polo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus" - Ellen G. White.



segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

ENCHENTE: O DESCASO DA PREFEITURA


Abrigos improvisados pelos próprios flagelados na Folha 33 da Nova Marabá

 O previsível aconteceu em Marabá. Os rios Tocantins e Itacaiunas ultrapassaram a cota de alerta e a prefeitura não construiu ainda nenhum abrigo para acomodar as famílias flageladas. Apesar das previsões já indicarem esse nível preocupante há dias, o trabalho de construção dos abrigos pela administração municipal simplesmente não avançou.

Na manhã desta segunda-feira (28), a régua fluviométrica amanheceu marcando 10,80 metros e as águas continuam subindo.
Acossados pelas águas e sem ter para onde ir, moradores das áreas mais baixas da cidade estão vivendo em situação dramática. Cada noite para eles é um pesadelo e, se chove, então, é aquele deus-nos-acuda.
Atualmente já existem abrigos improvisados pelos próprios flagelados em diversos pontos da cidade.
A Defesa Civil não possui um controle do número dos desabrigados. Mas pelo que foi apurado pela reportagem, o número de famílias já passa de cem.
Na Vila Canaã, a popular Vila do Rato, até a manhã de ontem, a enchente já havia escorraçado pelo menos 13 famílias, segundo cálculos dos próprios moradores
A maior concentração de flagelados está na Feirinha, à entrada da Marabá Pioneira. Ali, também de acordo com contabilidade feita pelos próprios desabrigados, há mais de 50 famílias.
Outras tantas estão numa área da Folha 33, na Nova Marabá, e também ao longo da Transmangueira, no Bairro Santa Rita, entre outros locais.
No bairro Santa Rosa, dezenas de famílias já deixaram suas casas nas travessas São João e São Pedro e também na Rua Pará.
Segundo consta, algumas se retiraram ainda na quarta-feira (23). Mas a grande maioria saiu mesmo de sábado para cá.
Alguns foram para casa de parentes e conhecidos, outros improvisaram um barraco em local mais elevado. Quem não teve outra alternativa correu para a Feirinha, à entrada da Marabá Pioneira.
Durante todo o dia de ontem, o movimento foi grande nos bairros de áreas baixas, com gente se mudando e outros improvisando abrigos.
Entre os flagelados, o descontentamento é grande com a administração municipal. A Defesa Civil estaria doando apenas um pedaço de plástico para cada família improvisar seu abrigo e a prefeitura colocou caminhões à disposição para fazer a mudança.
Um morador da Rua Pará que não quis se identificar estava revoltado na manhã de ontem com o descaso da prefeitura com os desabrigados. Ele disse que foi à Defesa Civil e tudo que lhe deram foi um pedaço de plástico preto de 4x5 pra abrigar ele, a mulher e os seus 5 filhos. Além de pequeno, o plástico estava todo rasgado, o que foi constatado pela reportagem.
“Quando acaba, o prefeito ainda vai no rádio dizer que tá tomando providências”, reclama uma flagelada da Vila do Rato, que também não quis se identificar. “A enchente não é na casa dele, por isso é que ele não tá nem aí”, complementou.
Forçados a improvisar um barraco para não dormir no relento, os flagelados se viram como pode. Qualquer pedaço de madeira encontrado na rua tornou-se um achado fabuloso para eles.
No bairro Santa Rosa, famílias estão atravessando o Tocantins de canoa para buscar palha de babaçu do outro lado do rio.
No abrigo que existe na Folha 33, boa parte dos barracos também está coberta de palha. Lá, os flagelados se uniram e fretaram uma caminhonete por 50 reais para trazer o material do Bairro Nossa Senhora Aparecida, a popular Invasão da Coca-Cola.
O barraco da dona de casa Maria do Socorro Neres Cabrinha, no abrigo improvisado da Folha 33, é o único que não é coberto de palha. Ela disse que já enfrenta a enchente há 8 anos e, ultimamente, adquiriu algumas telhas de amianto que são guardadas para a ocasião.
Cobertos de palha, de telha, ou de pedaços de flandre, os barracos nos abrigos improvisados não garantem o mínimo de conforto e, quando chove, pouco protegem da água. Mas, com toda dificuldade, a água da chuva é ainda uma das poucas coisas que as famílias têm possíveis de associar ao céu, nesses dias de verdadeiro inferno em que vivem.

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