Foto: Tuerê



NOTAS SOBRE:


"A maior necessidade do mundo é a de homens; homens que não se comprem nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao polo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus" - Ellen G. White.



segunda-feira, 20 de setembro de 2010

AMAPÁ: BAIRRO DE RETICÊNCIAS E PONTO FINAL

Marabá se define bem como uma cidade de contrastes. Ao passo que para alguns do lugar a última moda é comer uma das principais iguarias da culinária japonesa, como noticiou recentemente a revista Veja, outros há, entretanto, que sequer sabem o significado da palavra sushi e até dirão, com honestidade, que viram o termo pela primeira vez quando leram esta reportagem.

Nada contra o sushi. Mas esta Marabá existe. Que o digam os moradores do bairro Amapá, logradouro antigo, situado num recanto esquecido da cidade.
A realidade contrastante que existe em Marabá está presente no próprio Amapá. O bairro está dividido em duas áreas, claramente separadas e distintas pela geografia. Uma é a área residencial, habitada predominantemente por famílias pobres. Fica mais ao norte da Rodovia Transamazônica e começa a partir da margem esquerda do rio Itacaiúnas. A outra área fica do outro lado da rodovia, e compreende um setor institucional, devidamente planejado para abrigar diversas repartições, entre elas o fórum, a sede do Ministério Público Estadual, a Secretaria Municipal de Saúde, a Superintendência Regional do Incra, a agência do INSS, o Hemocentro Regional (Hemopa), a Secretaria Municipal de Educação, o campus da Universidade do Estado do Pará (Uepa) e várias outras.
Embora o Amapá evoluído esteja mais ao sul da Transamazônica, do lado norte também há alguns prédios importantes, como a sede do DNIT (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes), o tradicional Colégio Santa Terezinha e o Hotel Del Príncipe.
Na verdade, é naquilo que se poderia chamar de Amapá Pioneiro, a área que começa no Porto das Canoinhas, a banda esquecida do bairro. Ali é que vivem as famílias que formam a base da pirâmide econômico-social.
Na tarde desta segunda-feira (20/09), o poster esteve no logradouro e viu e ouviu o clamor dos moradores sobre suas principais dificuldades.
O Amapá é um bairro antigo, cuja história se confunde com a história da cidade, no entanto, sempre viveu, décadas após décadas, sob o olhar frio e indiferente dos governantes.
No logradouro não há saneamento e nas poucas ruas pavimentadas no passado hoje não se vê mais asfalto.
O bairro também não está na rota dos ônibus coletivos. Esta é uma das principais queixas dos moradores. Quem precisa ir de ônibus à Nova Marabá ou a outros bairros como Liberdade e Laranjeiras tem inevitavelmente que dar uma pernada, já que a parada mais próxima de quem mora na beira do rio está a quase um quilômetro de distância. “Não sei por que não botam ônibus aqui. No passado já teve, mas tiraram”, queixa-se a servidora pública Eva da Conceição Costa, moradora do Amapá há oito anos.
Telefone público existe, mas não funciona, há uma única escola de Ensino Fundamental e o posto de saúde mais próximo é o Pedro Cavalcante, na Rodovia Transamazônica.
Depois de vários anos, a Cosanpa (Companhia de Saneamento do Pará) iniciou, recentemente, a implantação de um projeto de abastecimento de água, mas as obras ainda estão pela metade. Por enquanto, os moradores se utilizam do próprio rio para lavar e, para beber e cozinhar, buscam água em alguns poços semiartesianos que há em certos prédios públicos. O mais frequentado por eles fica no que eles chamam de Mercado Velho, que é, na verdade, o que sobrou do antigo Mercado Municipal do Amapá, uma obra que reflete bem a situação de abandono que impera no logradouro.
Situado na principal rua do bairro, a Rua do Aeroporto, o Mercado Municipal foi inaugurado em janeiro de 1972, nos tempos do presidente Médici, quando o Pará era governado por Fernando Guilhon. Hoje, o prédio virou moradia de pelo menos duas famílias e está com sua estrutura aos frangalhos. As famílias vivem em condições insalubres, sem o mínimo de conforto e segurança.
Um dos moradores é o próprio vigia, contratado pela prefeitura para zelar do prédio. Ele já estaria há dez anos residindo no local. Nesse período, o prédio nunca recebeu uma mão de tinta ou qualquer outro benefício do poder público. Das pessoas ouvidas pela reportagem, ninguém soube dizer ao certo há quanto tempo o mercado deixou de funcionar. “Minha mãe conta que, quando eu nasci, fui pesada numa balança aqui dentro, mas quando me entendi por gente ele [o mercado] já estava assim, parado”, informou ao jornal uma moça de 20 anos.
O mercado é, talvez, o pouco que restou dos tempos que o Amapá era outro, movimentado pelo vai-e-vem de gente e barcos às margens do Itacaiúnas. Algumas décadas atrás, quando ainda não existia a ponte, o Porto das Canoinhas era o principal caminho de ligação da Marabá Pioneira com o então emergente núcleo Cidade Nova. Naquela época, o mercado era um importante balcão de venda de carne e peixe, mercadoria sempre abundante nas primeiras horas da manhã.
Com o passar dos anos, o mercado foi desativado, mas os mercadores de peixe se mantiveram no negócio, vendendo em casa ou de porta em porta. Hoje, no Amapá, são poucos os que vivem da atividade pesqueira, mas muitos ainda há que pescam para o próprio consumo.

3 comentários:

Pereira disse...

Caro Laércio, tenho 41 anos nasci aqui em Marabá e me recordo muito bem desse mercado eu acho que ele deixou de funcionar no final do ano de 1982, exatamente depois da inauguração da ponte sobre o rio itacaiunas, já o antigo porto da balsa a ponte extinguiu a sua existência e a dos moradores que ali viviam, não que a ponte foi um mal para cidade só que o progresso é isso aí.

Anônimo disse...

O progresso não pode esmagar nem reduzir a pó um lugar, muito menos sepultar suas tradições e jamais "matar" o povo daqauele lugar!

Anônimo disse...

O progresso não pode esmagar nem reduzir a pó a história, nem as tradições, muito menos a cultura e jamais o povo!

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