Foto: Tuerê



NOTAS SOBRE:


"A maior necessidade do mundo é a de homens; homens que não se comprem nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao polo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus" - Ellen G. White.



quarta-feira, 29 de setembro de 2010

SETENTÃO, SOLITÁRIO, MAS FELIZ

Do alto dos seus 70 anos, o aposentado Francisco Félix da Silva é, por assim dizer, um dos casos raros de solitário feliz. Ele é um dos 30 idosos acolhidos pelo Lar São Vicente de Paulo e um dos poucos que estão ali por opção pessoal. Impossibilitado de andar com as próprias pernas, por conta de uma doença que afetou suas articulações, ele está no abrigo há pouco mais de dois anos. Para se locomover, ele faz uso de um carrinho de três rodas, movido a manivela.

Apesar da enfermidade e o abandono da família, seu Francisco diz ser um homem feliz. E é fácil notar, pelo seu estado de espírito, quando conversa, que está sendo sincero nas palavras. “O povo aqui é muito bom pra lutar com a gente. Me sinto muito feliz aqui dentro. Eu não preciso e nem quero um lugar melhor do que esse”, afirma o septuagenário, ressaltando que, ainda que quisesse, o ganha com a aposentadoria não daria pra pagar aluguel, comprar o que comer e ainda pagar alguém pra cuidar dele. “Do jeito que estou, não posso mais lavar um prato, nem fazer um café. Então aqui tá muito bom pra mim”, acrescenta.
Desde que foi para o abrigo, a principal ocupação de seu Francisco Félix é ficar tomando uma brisa, enquanto observa o passeio das águas do rio sentado em uma cadeira. O Lar São Vicente de Paulo fica nas margens do Tocantins e proporciona uma vista privilegiada do rio.
Quando falou à reportagem, estava já há um bom tempo sentado na orla, isolado, na companhia apenas da cadeira de macarrão, seu carrinho de três rodas e uma garrafa de café.
Perguntamos a ele, sobre o que pensa, quando está absorto, sentado à beira do rio. Com toda franqueza que lhe é peculiar, disse que não pensa em nada, apenas fica observando as águas. “Pra mim, não tenho que lembrar de nada. Eu já vivi a minha vida todinha, hoje estou com 70, se Deus me der mais dois ou três [anos] tá bom demais. Estou conformado, eu sei que depois daqui é só a 29 [o cemitério da Folha 29, na Nova Marabá]”.
Pernambucano, seu Francisco Félix veio para Marabá há mais de 30 anos. Quando o assunto é o seu passado ele evita aprofundar-se. Diante das indagações, disse apenas que já teve mulher, filhos e também patrimônio. Na década de 1970, era dono de algumas casas de aluguel na Rua 7 de Junho, na Marabá Pioneira. Na época do Plano Collor, teve problemas com suas finanças e acabou falindo.
Dezessete anos atrás começou a sentir os primeiros sintomas de que estava com problemas de mobilidade nas pernas. Já na fase de economias magras, ele ainda chegou a tentar a sorte em Palmas, no Tocantins, mas conseguiu ficar por lá apenas seis meses. Depois foi para Redenção, no Pará, mas lá também não conseguiu adaptar-se e retornou a Marabá três meses depois.
No Lar São Vicente de Paulo, metade de sua aposentadoria é destinada ao abrigo, para despesas com alimentação e lavanderia.

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